
Uma conversa exclusiva da Otaku Saver com Patience Lekien e Christiano Terry, criadores de MFINDA, sobre o nascimento do projeto, sua importância cultural e a união entre África e Japão.
Por Felipe da Otaku Saver
A Otaku Saver teve a honra de realizar uma entrevista exclusiva e completa com a equipe responsável por MFINDA, o aguardado filme de animação que une o melhor da tradição japonesa com a força e espiritualidade da cultura africana. Criado por Patience Lekien e Christiano Terry, o projeto está sendo desenvolvido com a participação de nomes lendários da indústria, como Masao Maruyama (Metropolis, Paprika), a produtora JuVee Productions (de Viola Davis e Julius Tennon), a GKIDS, e o estúdio D’ART Shtajio, fundado por Arthell Isom.
Com o objetivo de representar o Reino do Kongo de forma autêntica, MFINDA se destaca como um dos projetos mais ambiciosos da história recente da animação — um verdadeiro elo entre a ancestralidade africana e a arte japonesa.


Introdução do Projeto
Otaku Saver: Como surgiu a ideia de Mfinda? Quais foram as principais inspirações para o filme?
Patience Lekien (Criador):
A ideia de MFINDA surgiu da união de duas coisas. Primeiro, de uma jornada pessoal de redescoberta da cultura dos meus antepassados. Essa experiência foi profundamente espiritual e me levou a criar ilustrações digitais como forma de processar meus pensamentos e emoções. Isso deu origem a uma série curta chamada Spirited to Africa, inspirada em uma das minhas maiores influências artísticas, Hayao Miyazaki. A partir dessas ilustrações, a história começou a nascer naturalmente — com personagens, trama e um universo próprio.
Christiano Terry (Co-criador, Produtor e Roteirista):
Quando descobri o trabalho de Patience, fiquei impressionado com a originalidade e a representação autêntica do folclore e da espiritualidade congolesa. Apesar de ser uma história culturalmente específica, percebi que tinha um apelo universal. Patience já tinha um público que valorizava seu trabalho, então, quando ele decidiu confiar em mim e na N LITE, começamos a desenvolver uma narrativa atemporal, capaz de tocar pessoas no mundo todo. Depois que o roteiro principal foi concluído, trouxemos produtores premiados, como a GKIDS, a JuVee Productions de Viola Davis e o lendário Masao Maruyama, para transformar o projeto em realidade.
O Significado de MFINDA

Otaku Saver: O que Mfinda representa para vocês como criadores?
Patience Lekien (Criador):
MFINDA significa “floresta” — é o coração da história. Representa o mundo em constante mudança, enraizado na cultura e na comunidade. A Mfinda conecta nossos personagens e os ensina lições sobre si mesmos, sobre os outros e sobre o mundo. É também uma representação da ligação entre nós e nossos ancestrais, da nossa relação com a natureza e do nosso papel dentro dela.
Christiano Terry (Co-criador, Produtor e Roteirista):
Para mim, MFINDA, artisticamente, representa uma nova era na narrativa do anime. Antes, nós usávamos o termo “afrime” ou “afro-anime”, mas hoje percebemos que Mfinda é simplesmente anime — não precisa de rótulos adicionais. Criamos uma ponte cultural entre a África e o Japão, e mal podemos esperar para ver as infinitas possibilidades que essa união criativa vai gerar.
Equipe e Produção
Otaku Saver: Mfinda conta com grandes nomes da indústria. Como foi reunir esse time tão talentoso?
Christiano Terry:
O que mais me empolga é colaborar com artistas talentosos. Quando você coloca pessoas em uma sala com o mesmo objetivo — criar algo espetacular — há uma energia palpável.
Claro que existem desafios: Hollywood não é um lugar que te recebe de braços abertos, e há muito bloqueio e burocracia. Além disso, há diferenças entre os processos de produção do Japão e dos Estados Unidos, então é preciso muita comunicação. Mesmo assim, conseguimos unir pessoas de mente aberta e criativas através da arte, da narrativa e de uma missão clara. Nosso sucesso até aqui se deve à vontade de colaborar.
Otaku Saver: O que diferencia Mfinda de outras animações em termos de produção?
Christiano Terry:
MFINDA é uma verdadeira coprodução internacional, que une as técnicas tradicionais japonesas de animação a uma nova abordagem que prioriza cultura e autenticidade. Nunca existiu um filme como Mfinda — nem uma equipe como a nossa para contar uma história desse tipo. Nosso objetivo é fazer um trabalho magnífico e deixar o público orgulhoso.
História e Personagens
Otaku Saver: Odi e Nasambi são protagonistas profundamente desenvolvidas. Como foi o processo de criação dessas personagens?

Patience Lekien:
Odi e Nasambi são ligadas de forma única. Nasambi surgiu primeiro — ela representa a feminilidade africana sob uma ótica ancestral. Depois, Odi surgiu, e a história passou a girar em torno da jornada dela para descobrir suas origens. Juntas, elas simbolizam a curiosidade, a força e a sabedoria feminina africana. Ambas foram inspiradas na minha mãe — duas faces da mesma moeda: Nasambi é sábia e serena; Odi é destemida e determinada.
Christiano Terry:
Pegamos os arcos originais criados por Patience e os desenvolvemos com uma equipe de roteiristas que inclui Donald H. Hewitt (responsável pelas versões em inglês de A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado e Nausicaä do Vale do Vento) e Mika Abe (Forest of Piano). Tivemos também o apoio essencial de Masao Maruyama e do co-diretor Arthell Isom, fundador do D’ART Shtajio. Maruyama-sensei é um visionário e tem nos incentivado a fazer deste um clássico do anime.

Otaku Saver: O guardião Kozo tem um design marcante e poderes únicos. Como ele foi concebido?
Patience Lekien:
Kozo foi inspirado em antigos guerreiros do Reino do Kongo, combinados à mitologia do cão espiritual da tradição congolesa. Ele pode se transformar em cão e atravessar o mundo dos vivos e dos ancestrais. É o protetor da Mfinda, com responsabilidades divinas.

Otaku Saver: Há algum significado especial por trás dos nomes dos personagens?
Patience Lekien:
Sim. Odi é o apelido de infância da minha mãe. Nasambi vem de Nzambi, que significa “Deus”, simbolizando sua conexão espiritual. Kozo é o nome de um objeto espiritual (nkisi) em forma de cão de duas cabeças, muito importante na espiritualidade Kongo. Já os Elokos vêm do folclore congolês — são criaturas que vivem na floresta. E Queen Simbi vem das entidades aquáticas mitológicas chamadas Simbi.

Visual e Influências
Otaku Saver: O design de Mfinda é fortemente inspirado no Reino do Kongo. Como foi o processo de pesquisa e desenvolvimento visual?
Patience Lekien:
Eu pesquiso o Reino do Kongo há muitos anos como forma de me reconectar à minha ancestralidade. Todo o conceito visual de Mfinda nasceu dessa pesquisa — foi um processo natural e essencial para a criação da história.
Christiano Terry:
Assim como Patience, eu também busco conhecimento sobre o passado ancestral. Mfinda e os futuros filmes da N LITE são exercícios de imaginação histórica — queremos recriar os mundos mágicos do passado.
Otaku Saver: Quais foram as principais influências artísticas e culturais no estilo visual do filme?
Christiano Terry:
Estamos desenvolvendo a identidade visual do estúdio, e Mfinda será uma das primeiras obras a mostrar isso. Obviamente, somos inspirados pelo Studio Ghibli e por grandes diretores de anime dos anos 80 e 90. O trabalho de Maruyama-sensei em Metropolis também nos inspira muito. A meta é equilibrar técnicas japonesas tradicionais — desenhadas e pintadas à mão — com elementos culturais e estéticos do Congo.
Cultura, Representatividade e Conexão com o Brasil
Otaku Saver: Mfinda marca uma nova fase na animação ao colocar a cultura africana no centro da narrativa. Como vocês veem a importância dessa representatividade?
Christiano Terry:
Fico surpreso que um filme como Mfinda ainda não exista. O cinema tem o poder de contar histórias nunca antes contadas — e é isso que estamos fazendo. Não se trata apenas de cultura africana, mas de expandir o alcance da arte. Esperamos que Mfinda abra portas para outras obras semelhantes.
Otaku Saver: O Brasil tem uma forte influência africana. Como vocês enxergam essa conexão com o público brasileiro?
Patience Lekien:
Durante minhas pesquisas, descobri que a maioria das pessoas trazidas do Kongo e de Ngola (atual Congo e Angola) foi enviada ao Brasil, devido à rota marítima mais curta. Aprendi sobre Zumbi dos Palmares, uma figura que me inspira muito. Vejo muitos espelhos entre Congo e Brasil — o Rio Amazonas e o Rio Congo, as florestas tropicais, a energia espiritual. Acredito que o público brasileiro terá uma conexão única com Mfinda.

Expectativas e Lançamento
Otaku Saver: Como está sendo planejada a distribuição de Mfinda? Há uma previsão de estreia global?
Christiano Terry:
Ainda não posso revelar muitos detalhes, mas posso confirmar que haverá um lançamento global nos cinemas. A data será anunciada em breve.
Otaku Saver: Existe a possibilidade de Mfinda se tornar uma franquia ou expandir seu universo?
Christiano Terry:
Sim. Já temos um mangá em produção, e em breve anunciaremos nossos parceiros para a distribuição. Por enquanto, nosso foco é fazer um filme incrível — depois, expandiremos o universo de forma natural.
Mensagem e Impacto
Otaku Saver: Qual é a principal mensagem que vocês querem transmitir com Mfinda?
Patience Lekien:
A mensagem central é que a cura começa dentro de nós, mas termina na comunidade. Mfinda fala sobre união, cura coletiva e reconexão com o passado. É uma carta de amor ao Congo, aos descendentes africanos e à humanidade.
Otaku Saver: Se você tivesse que descrever Mfinda em uma única frase, como seria?
Patience Lekien:
“Mfinda é sobre olhar para trás juntos, curar juntos e seguir em frente juntos.”
Christiano Terry:
“Um filme de anime que você não vai esquecer.”

Viola Davis e JuVee Productions
Otaku Saver: Viola Davis é uma atriz respeitada mundialmente. Como tem sido trabalhar com ela em Mfinda?
Christiano Terry:
Tem sido uma experiência maravilhosa. Viola, Julius Tennon e toda a equipe da JuVee Productions acreditaram no projeto desde o início. Em breve teremos mais novidades sobre essa colaboração.
Otaku Saver: Como a presença de Viola Davis pode fortalecer a mensagem e o impacto cultural do filme?
Christiano Terry:
Temos um elenco incrível planejado, com pessoas de grande relevância cultural. Cada integrante contribuirá de forma significativa para o impacto do filme.
Curiosidade: Mfinda e o Folclore Brasileiro
Além da forte presença da cultura africana no Brasil, Mfinda também chamou atenção pelas semelhanças com o folclore brasileiro. O país tem histórias fascinantes sobre espíritos e seres míticos — entre eles, o famoso Saci-pererê, um ser travesso das florestas, conhecido por suas travessuras e poderes sobrenaturais.
Otaku Saver: Já ouviram falar de histórias do folclore ou cultura brasileira?
Christiano Terry:
Eu amo o Brasil e sempre fui atraído pela cultura do país. Tenho laços familiares com o Brasil e adoraria explorar uma história ambientada aí no futuro. Gostamos muito da ideia do Saci-pererê!
Agradecimento
The Otaku Saver team is deeply grateful for the opportunity to speak with the creators of MFINDA. This incredible production is heralding a new era for animation — bringing a powerful and representative story that will undoubtedly touch many people around the world, especially in Brazil where African culture has a historic presence.
Felipe from Otaku Saver
Obrigado, Patience e Christiano, por essa conversa inspiradora. Estamos ansiosos para o lançamento de Mfinda e para ver o impacto dessa obra no mundo e no Brasil.
